Campo 4

Em 1990, quando foi criada, a Campo 4 era uma das raras produtoras brasileiras especializada em animação. Seus fundadores, Aída Queiroz e Cesar Coelho, ambos com formação em Belas Artes, se conheceram durante um extenso programa de treinamento no National Film Board of Canada, uma das mais importantes produtoras de animação do mundo. 

Quem é quem?

CESAR COELHO – O contador de estórias e o satélite

Sou um contador de estórias. Portanto, se me derem licença, vou contar um pouco da minha própria história, com “h” mesmo.

Disney costumava a dizer que “tudo começou com um rato”. No meu caso, tudo começou com um satélite.

Nos idos dos anos 80, o governo canadense ofereceu uma série de intercâmbios para enriquecer a proposta de uma empresa canadense em uma concorrência internacional para venda de um satélite para o governo brasileiro.  A maioria dos convênios era na área de engenharia e agricultura, mas um era artístico, mais especificamente, na área de animação: um intercâmbio entre o National Film Board – na época um dos mais ativos e importantes centros de produção autoral de animação no mundo – e a falecida Embrafilme.

Confirmada a compra do satélite canadense, o projeto foi executado e treinou 10 artistas brasileiros na produção de animação.  Foi aí que aqueles que se tornariam os quatro fundadores do Anima Mundi se encontraram: Marcos Magalhães coordenava o projeto e eu, Aída Queiróz e Léa Zagury nos tornamos bolsistas.

A Animação para mim, contador de estórias, foi uma paixão avassaladora, contágio com uma febre incurável.  Tinha achado o meio ideal para contar minhas estórias.

Ao fim do convênio, eu e Aída criamos a Campo 4, nosso estúdio de animação. Aqui eu já dirigi mais de duzentas obras, incluindo curtas-metragens, comerciais, aberturas para cinema e TV, filmes educacionais, etc.

Tenho espalhado o vírus por aí em palestras em escolas, centros culturais, no Brasil e em várias cidades pelo mundo. Até me tornei coautor de um livro – Animation Now, editado pela Tashen Books e traduzido para 6 idiomas.

Já há alguns anos me orgulho da parceria com o brilhante diretor Luiz Fernando Carvalho. Fui diretor de animação nas duas temporadas de “Hoje é Dia de Maria”, da minissérie “Afinal o que querem as mulheres” e, mais recentemente, na novela “Meu Pedacinho de Chão”.

Tive a chance de participar do processo de seleção para as mascotes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos e ainda coordenei as animações para a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos Rio2016.

Estamos agora desenvolvendo projetos de séries e longa-metragem de animação na tentativa de aplacar a febre já que não há possibilidade de cura.

De qualquer maneira, eu não quero ser curado mesmo…

AÍDA QUEIROZ – O despertar através de Norman McLaren

Meu caso de amor à primeira vista aconteceu na Universidade Federal de Minas Gerais quando fazia o curso de Belas Artes.

Enquanto realizava a monitoria da disciplina História do Cinema, assisti os filmes de Norman McLaren pela primeira vez. Fascinada, vi animações diferentes de tudo que eu conhecia e decidi neste momento que, mesmo que não houvesse escolas de animação no Brasil, era isso que eu iria ser: animadora.

Comecei criando animações experimentais, mas a profissionalização veio pouco tempo depois, em 1985, em uma oportunidade única no Rio de Janeiro. Durante dois anos o National Film Board of Canada, em acordo firmado com a extinta produtora estatal Embrafilme, formou dez diretores de animação selecionados em todas as regiões do país. Desse encontro, mais tarde surgiria o Anima Mundi, festival criado e dirigido por quatro animadores que se conheceram então: Aída Queiroz, Cesar Coelho, Lea Zagury e Marcos Magalhães.

Eu e Cesar nos tornamos parceiros de trabalho e fundamos a Campo 4 em 1990. O objetivo era colocar profissionalmente em prática o universo de possibilidades técnicas e criativas que surgiram durante os dois anos de aprendizado, em que produzimos nossos primeiros curtas-metragens, ambos premiados com o Coral Negro, do Festival de Havana em Cuba – o meu “Noturno” e “Informística” de Cesar Coelho.

O primeiro trabalho contratado da Campo 4 já indicava a nossa personalidade: ir além do tecnicamente correto e favorecer a ideia com a técnica de animação adequada. As doze vinhetas animadas – de um minuto cada – que seriam partes integrantes de uma coprodução brasileira-italiana sobre a história do futebol utilizavam a mesma técnica que desenvolvi para meu filme “Noturno”. Foram algumas centenas de desenhos feitos com lápis de cor sobre papel que resultaram em belos movimentos.

Desde então, produzimos mais de 230 mil imagens, utilizando técnicas tradicionais e experimentais para curtas-metragens, filmes comerciais, institucionais, desenvolvimento de série e produção para TV. Alguns de meus trabalhos como diretora de animação são as aberturas para as novelas “Cordel Encantado” e “Cobras e Lagartos”, para a Rede Globo de Televisão, além de animação e produção executiva dos trabalhos da Campo 4.

O amor continua forte! A fascinação se renova a cada dia e ainda assisto McLaren maravilhada como na primeira vez.